CONTRA O FEMINICÍDIO E A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA LIGUE 180
(Para ler ouvindo Elza Soares cantando Maria da Vila Matilde*)
Em 2013, 4.762 mulheres foram assassinadas no Brasil. Em 1980 foram 1.353. Mais do que o triplo em 3 décadas (fonte: Mapa da Violência 2015: Homicídio de mulheres no Brasil). Mesmo com Lei Maria da Penha, com as Delegacias Especializadas de Defesa da Mulher (veja aqui a relação por estado) e campanhas como Ligue 180, da Central de Atendimento à Mulher.
Essa era e continua sendo a cultura no país em relação à mulher: apenas um objeto, sem direitos, nem mesmo o mais básico de todos, o direito à vida. A claque na porta do fórum aparentava concordar com o escritor (adjetive como achar mais adequado) Carlos Heitor Cony, que declarou, na época:
‘Vi o corpo da moça estendido no mármore da delegacia de Cabo Frio. Parecia ao mesmo tempo uma criança e boneca enorme quebrada… Mas desde o momento em que vi o seu cadáver tive imensa pena, não dela, boneca quebrada, mas de seu assassino, que aquele instante eu não sabia quem era’.
Agir. Agir é o que traz mudança.
Passaram pela mesma tragédia do assassinato físico seguido do moral as famílias de Mônica Granuzzo e Daniella Perez. O pai de Mônica chegou a ser chamado de palhaço pelo juiz que conduzia o caso que, não satisfeito, mandou que a segurança o retirasse do recinto. Sobre Mônica falou-se até que era travesti - como se isso fosse uma ofensa. O assassino de Mônica, o ex-modelo Ricardo Peixoto, hoje dá aula na praia de Copacabana. Brilha vivo sob o sol.
Glória Perez agiu. Recolheu 1,3 milhão de assinaturas, conseguindo que homicídio qualificado se tornasse crime hediondo. Há discussão se foi ou não iniciativa popular, se deveria ou não ser hediondo, se a privação de liberdade é solução mas, convenhamos, discussões irrelevantes. Relevante é a lei só ter se debruçado sobre o assunto quando assassinaram uma atriz famosa e branca, filha de uma diretora de tv famosa e branca. Que bom que a repercussão trouxe resultados positivos para as mulheres em alguns casos posteriores ao de Daniella perez. Mas não podemos ignorar que entre 2007 e 2013 o aumento de assassinatos de mulheres negras aumentou em 54% e o de mulheres brancas, no mesmo período, diminuiu em parcos 9,8%.
São tantos casos que não caberíam em um único tomo: Claudia Lessin Rodrigues, Viviane Alves Guimarães Wahbe, Ana Carolina Vieira, Raquel Rodrigues Soares e tantas, tantas mais.
O feminicídio é uma realidade e uma cultura e não só no Brasil. Agir é o único caminho possível. Ligando 180 se a vítima for você ou a outra, escrevendo sobre se for escritora, legislando se estiver na política etc, etc. Use sua área de atuação para mudar essa realidade e essa cultura.
Aja!