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29.6.16

É o Momento Fudeu


Não é a queda, o impacto no chão, ralados e sangue. É o momento que precede a queda. Aquele átimo de instante em que não há contato com nenhuma superfície, nem nada, nem tempo nem ninguém em quem se agarrar e a única visão é a do chão duro, inexorável e indiferente se aproximando da sua cara. A sua cara sem ar, a sua cara muda, a sua cara que vai quebrar. Também conhecido como Momento Fudeu.

Há o Momento Fudeu gastronômico. Quando, por exemplo, o bolo já está no forno há mais de 10 minutos e o gás acaba.

Há o Momento Fudeu informático. Quando você finaliza um e-mail com um SUA VACA, assim, em caixa alta só pra desopilar e quando vai apertar o botão de delete o gato salta do lado e aperta o botão da direita que está sobre o enviar.

Há o Momento Fudeu Agora-vou-morrer, quando o médico da 4a opinião te informa, assim como o da 3a, que o primeiro errou, errou feio e que agora o seu câncer inicial encontra-se em estágio avançado e rádio e químio e famílias e amigos evaporando. Nesse Momento Fudeu a tônica é a solidão. A solidão e a gincana desumana promovida por Anvisa e receita federal. Morram vocês, seus putos! Que eu vou é dar a volta por cima!

Não é a queda, o impacto no chão, ralados de sangue. Não é o cheque sem fundo. Não é a morte inesperada, não é o pão que caiu no chão - filho único - com o último tiquinho de manteira virado pra baixo.

É aquele instante, criatura, de consciência lúcida, segundos antes da sua cara estraçalhar no chão. O segundo entre a identificação do número do banco no visor do celular e a voz protocolar da atendente de telemarketing da empresa de cobrança. É aquele instante ao telefone segundos antes do interlocutor dizer - morreu. Mas você já sabe. Você já sabe que morreu assim como sabe que aquele pão era o último e você não tem um puto para comprar outro amanhã.

É, enfim, aquele segundo eterno em que o muro ainda está longe mas você já percebeu que o carro está há 180km/h e os freios não funcionam.

O Momento Fudeu é o momento em que não há. Saída. Não há. Solução. Não há. Não há mais ninho.


22.6.16

Agora eu entendi


Nos últimos dias entendi coisas que eu já sabia. Eu já sabia que passei dos 40. Mas agora entendi. Eu já sabia que tenho uma doença crônica. Mas agora entendi. Eu já sabia que sou mortal. Agora entendi.

Agora entendi aquelas camadas ocultas de informação que já estavam lá nas lembranças de infância, entremeadas nas falas de pai, de mãe, de avós.

Eu já sabia que quando ela disse para ele com um tom doce e infantilizado “eu não te suporto, meu amorzinho” ela estava apenas camuflando a agressão por causa das crianças presentes. Porque, claro, ela não aguentou esperar as crianças saírem de perto para gritar “eu não te suporto, seu filho da puta!”. Mas agora eu entendi que quando eu repeti para ele “eu não te suporto, meu amorzinho” imitando a voz e o tom doce e infantilizado porque os meus seis anos de idade ouviram a camuflagem e não as palavras, bem, agora eu entendi que eu feri ele profundamente. Porque ela me fez faca, estilete.

Eu já sabia que isso e outras coisas mais foram e são problema deles. Agora eu entendi.

Eu já sabia que um dia eu ia crescer e entender. Agora eu entendi que eu não tinha a menor ideia. Agora eu entendi.

15.6.16

Central do Textão


Imagina todos aqueles blogs ótimos que você lia já há mais de uma década juntos. Imaginou? Pois existe. E eu também estou lá, Central do Textão!

Porque as redes sociais são ótimas.
Mas acabam, desvirtuam, não têm indexação.
Porque aquele conteúdo ótimo foi na postagem de quem, mesmo? Ou foi num comentário? Quando?

Porque lá você encontra de uma tacada só a Fal, a Telinha, o Paulo Candido, o Ricado Cabral,   o Biscate Social Club, o Claudim Luiz e uma pá de gente que escreve de um tudo, para todos os corações, mentes e ouvidos àvidos pela palavra doce, pela palavra árida, pela palavra seca, pela palavra força, pela palavra. Pela palavra.

13.6.16

Boa noite



Sopinha quente, meia macia, cobertores, pijamas, ele, gatinhos.

Meia luz, aquecedor travesseiros muitos.

Maritacas adiantadas, cigarras atrasadas, isso é uma coruja?

Boa noite.