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26.12.05

Natal

Ele veio, fez minha decoração de natal, tomamos suco de pêssego e comemos gelatina. Pus o anjo sobre a tv e tive um dia iluminado. Amém.

Natal e o Complô Masculino

Então ele olha bem no fundo dos meu olhos e fala muito sério e len-ta-men-te, como se eu fosse surda e retardada - e eu vejo um gostinho de prazer no canto da sua boca:
- Eu não te amo.

Dois dias depois o interfone toca sem aviso e é ele. E quando eu vou ver a gente já está trepando, mete, mete, mais, mais e os vizinhos estão ouvindo, isso, vai, vai, vai, foi, ah!!!.... e ele já está olhando de novo encantado e abestalhado para a minha foto que está na geladeira.

Se veste com pressa e ordena: vamos pro mercado que você não pode ficar desabastecida.

Sim queridas: é um complô masculino. Sim queridas, eles querem nos enlouquecer.
Sim queridos: eu não tenho vergonha na cara. Graças a Deus.

Feliz Natal.

22.12.05

Como o gelo que vira água
Como a manteiga que derrete
Como a chama que apaga
Como a poeira que o vento espalha

Assim quero ser eu.
Hoje.
Somente hoje. Eternamente

Mas você vem
e acelera meu coração
inflama minha pele
dispara minha pulsação

E eu continuo aqui
Sendo eu. Inteira, una.
E só.

20.12.05

Ponto Morto

Pisar nas feridas
Arrancar as peles soltas
Morder a língua
Arrancar as gazes envoltas

Lamber as feridas
Arrancar os olhos
Chupar o sangue
Regurgitar a bílis

Não toco piano
Toco tendões
Comer a própria carne
É minha única tentação

13.12.05

Beija-flor, Pintassilgo, Rouxinol e Colibri

Beijei a flor
Ela me mordeu
Bebi o orvalho
Ele me afogou
Toquei a rosa
Ela me espetou

Natureza de merda:
Vai toda pro caralho!

Hoje, Natal, Ano Novo

Não aguento mais tanto tapa na cara
tapa na cara
tapa na cara
tapa na cara

Não, isso não é um poema. Isso é angústia.

Natal + Ano Novo. Presentinhos, famílias reunidas em volta de fartas
mesas e muitas fotinhas.

E aonde é que eu fico nisso tudo? Sempre foi horrível. Sempre foi a
pior época do ano para mim, sempre foi um desespero.

Todo os meus natais sempre acabei em algum momento me trancando no
banheiro para chorar. Mas esse ano está insuportável.

Ver a sua casa iluminada doeu. Doeu com D maiúsculo. Ver uma árvore
montada na casa da minha mãe doeu. Ver minha avó se referir a mim como
alguém sem caráter e perigoso, como se eu não estivesse ali e na
frente de uma visita doeu.

Eu sinto sua falta, eu queria ser um pouco mais ignorante.

Aí como é que eu te digo que eu preciso de, sei lá, 15 minutos de colo
quando você diz que eu sou infantil? Ás vezes é só isso que eu quero
mesmo: colo. Ou ouvir a sua voz no telefone. Ou ficar abraçada em
silêncio. Ou trepar violentamente como se o mundo fosse acabar no
instante seguinte. Ou ter uma daquelas conversas deliciosamente tolas
que temos, que acabam com risadas maldosas sobre tudo e sobre todos,
os dois espíritos de porco, eu e você. E eu gosto disso.

E eu acabo ficando com medo de falar as coisas para você por que eu
não quero ser fonte de angústia, não quero que os meus problemas te
afastem de mim (como sempre afastaram todo mundo), pq não quero que
você encare a espontaneidade que eu tenho com você como infantilidade.

Eu sei que essa carta está andando em círculos, cachorro atrás do
próprio rabo, estou me repetindo, mas eu escrevo e escrevo e escrevo e
continua tudo aqui dentro, peito congestionado, tumultuado. Eu sei que
amanhã você está aqui. Mas nesse momento irracional amanhã é tanto
tempo... é tão distante... é como se fossem 28 anos passados, jogados
para frente, para o futuro. E eu me vejo com 5 anos, loirinha e miúda na foto amarelada, colhendo tomate e então penso: coitada, nem imagina as cagadas que vem pela frente.

E não consigo entender aonde foi parar a força quase sobre-humana que
eu sempre tive. De onde está vindo tanta fragilidade. Tanta vontade de
saltar do carro. Parar o jogo, sair fora.

Mas sigo em frente, pisando firme - totalmente no escuro, mas mantendo a pose.

E sinto sua falta. Demais.

Sinto a minha energia sendo sugada quando estou com outras pessoas,
salvo duas ou três exceções. Sinto uma Paz enorme quando estou com
você. As energias voltam. Arrumo a casa, corro atrás das coisas, me
sinto mais segura, menos proscrita.

Como dizer o que você já sabe? Queria cuidar de você. Gosto de cuidar
de você. Sinto falta de cuidar de você. Sinto falta de você.

Mas não estou paralisada não. Sinto sim, tudo que escrevi, mas hoje,
especialmente, está sendo um dia muito, muito estranho, de sensações
extremamente desconcertantes, desagradáveis, indescritíveis.

Olho meu móvel de telefone, que finalmente trouxe da casa da minha mãe
e, de repente, ele tem uma importância enorme, gigantesca. É quase um
ícone. De uma fase da minha vida em que eu sabia. Ou acreditava que
sabia... mas era tão mais confortável...

Sinto sua falta.
Te amo,
Bjs,
Pri

12.12.05

Doações

Não quero mais trabalhar com publicidade.
Não quero mais trabalhar com marketing.
Não quero mais trabalhar com internet.
Não quero mais trabalhar.

Aceito doações.

Banco do Brasil
0287-9
24.151-2

Escritora desempregada agradece.

11.12.05

Olivério Girondo - É a Baba // Encalhado nas Costas do Pacífico

É a baba.
Sua baba.
A efervescente baba.
A baba hedionda,
cáustica;
a negra baba rançosa
que baba esta espécie babosa de alimárias
por seus ruminantes lábios carcomidos,
por suas pupilas de ostra putrefacta,
por suas turvas bexigas empedradas de cálculos,
por seus velhos umbigos de ponteira gasta,
por suas corcovas plenas de interesses compostos,
de ações usurárias;
a pestilenta baba,
a boba doutorada,
que envergonha a felpa das bancas com dieta
e outras brandas poltronas não menos cuspidas.
A baba tartamuda,
adesiva, viscosa,
que impregna as paredes forradas de corcho
e contempla o desastre através da algibeira.
A baba dissolvente.
A acre baba oxidada.
A baba.
Sim! É sua baba…
o que enferruja as horas,
o que perverte o ar,
o papel,
os metais;
o que infecciona o cansaço,
os olhos,
a inocência,
com seus vermes de asco,
com seus vírus de fastio,
de idiotice,
de cegueira,
de mesquinhez,
de morte.

------------------x------------------

Corta os dedos múmias
a jugular marinha
dos algosos hóspedes que dobram tua pensativa omoplata de chuva
a veia de presságios que lavram em tua areia os caranguejos escribas
o tendão que te amarra a tanto ritmo morto entre gaivotas
e foge com tua terráqua estátua pestanejante
sem um mítico corno sob a neve menina recostada em tuas têmporas
porém com onze antenas fluorescentes investindo o mistério.
Foge com ela em chamas do braço de seu medo
toma-a das rosas se preferes em chagas a casca
porém abandona o eco desse hipomar hidrófobo
que fofopolvoduende te dilata o abismo com seus viscosos zeros absorventes
quando não te transmuta em migratório voo circunflexo de nostalgias sem rumo.
Furiosamente afasta tua Sigismunda rata introspectiva
tua teia de aranha faminta
desse trasmundo enteado de lava em mística abstinência de cactus penitentes
e com teu doguearcanjo aureolado de moscas
e tuas fiéis polainas melancólicas
de sonhos dissecados e gritos de desbaste cor de crime
foge com ela dentro de teu claustral aroma
mesmo que seu céuinferno te condene a um eterno "Te quero".
Deixa até desprender-se a cálida folhagem que brota de tuas mãos
junto a esse móvel totem de coxas água viva
flagela-te se queres com as violentas tranças que furtaste do esquecimento
porém por mais que sofras em cada cruz vazia uma paixão suicida
e tua própria cisterna com semivirgem lua reclame tua cabeça
já sem veleiro ocaso
nem chicha de pestanas
nem caixas onde lateja a agônica seca
foge pelos caminhos que arrancam de teu peito
com teu filho entre parênteses
teu formigueiro de espectros
tuas bisavós lâmpadas
e todas as frutíferas lembranças florescidas que alimentam tua sesta.
Foge com ela envolto em seu orquestral cabelo
e seu olhar sigilo
mesmo que te cruzes de asas
e o averritmo ferido que aninha no dorso onde te sangra o tempo
entardeça seu canto entre seus seioslotos
ou em seus braços de estátua
que perdeu os braços em altares de vestais e faunos inumados
e foge com tuas grilhetas de prófugo perpétuo
teu nimbo sem eclipses
teus desnudos complexos
e o sempiterno talho de fluviais trevas que te partem os olhos
para que vertam coágulos de rançosa an´gustia pai
impulsos prenatais
e meteóricas ânsias que lhe mordam os crótalos
os sonhoscobras do leito onde rema ambarmente desnuda
tua ninfômana estrela
enquanto teu corpo grasna um "Nunca mais" de pedra.

2.12.05

Poesia - Chacal

"Se os editores afirmam: poesia não vende; replicamos: poesia não é vendida! Se os colunistas que se tornaram mais importantes que as notícias que escrevem afirmam: poesia não é notícia; replicamos: poesia é a própria notícia! Se alguém insiste em dizer: poesia é chata; reiteramos: poesia chateia os medíocres. Se afirmarem: poesia é coisa de doido e de otário; corrigiremos: poesia coloca os imbecis e os canalhas em seus devidos lugares!" (Chacal).

22.11.05

Poesia Voa - Me apresento no Domingo

:: poesia falada :: performance :: dança :: música :: happening :: audio-visual

De 23 a 27 de novembro a poesia decola no Circo. Vinte anos depois, o Circo Voador vai reeditar o festival de poesia que revelou Fausto Fawcett, Renato Russo e lotou as ruas da Lapa.

Nesse link a programação completa.
Eu me apresento Domingo, a partir das 18:00, no evento Poetas em Viva Voz, junto com Bruno Cattoni, Alexei Bueno, Salgado Maranhão, Leonardo Fróes, Olga Savari, Claudia Arimsa, Claudia Roquette-Pinto, Alberto Pucheu, Carlos Lima, Afonso Henriques Neto, Geraldo Carneiro, Armando Freitas Filho, Suzana Vargas, Denise Emmer e Antônio Carlos Secchin.

Estão todos intimados a comparecer!
Bjs,
Priscila Andrade

16.11.05

Paulo Mendes Campos - O Amor Acaba

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Comprem!

11.11.05

Honra

Diz o dicionário Michaelis que honra são “Manifestações exteriores de respeito ou de saudade.”
Prefiro ver honra como manifestação interior de respeito à si próprio e ao próximo e saudade de quando não era necessário definir a palavra.
Será que esse tempo existiu?

Mas quase isso também diz o dicionário: “Sentimento de dignidade própria que leva o homem a procurar merecer e manter a consideração pública.” Prefiro que o homem procure merecer e manter a própria consideração.

Indo um pouco além, o léxico nos fala: “Consideração ou homenagem à virtude, ao talento, às boas qualidades humanas; Probidade; Fama, glória.” Seria então a honra um exercício de vaidade pública e comunitária?

Prefiro contrariar o dicionário e ver Honra como Ética. “Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão”.
Mas diria, contrariando um pouco mais o dicionário: no exercício de uma vida, de nossas vidas. Princípios morais, ideais da conduta humana, harmonia, educação, gentileza, delicadeza e verdade: Poesia.
“Caráter do que desperta o sentimento de belo; inspiração.”.
É dessa honra que precisamos para viver. A honra de viver PoÉticamente.

15.10.05

Imortal no Circo

"Ivan Junqueira, o presidente da Academia Brasileira de Letras, vai ler suas poesias no Circo Voador. A alta cultura dos fardões e a poesia de bermudas dos mambembes se encontram dia 23 de novembro, no Festival de Poesia do Circo, organizado por Bruno Cattoni e Maria Juçá. Além do Ivan, outros 299 poetas, simples mortais, participarão com seus versos."

Coluna Gente Boa, de Joaquim Ferreira dos Santos, Segundo caderno do Jornal O Globo, em 15 de outubro de 2005.

"poesia de bermudas dos mambembes" - hahahahaha,hihihihi, hohohoho!!!

19.9.05

RAPINAGEM NA LAGOA

Rapinagem explícita. Há mil maneiras de passar a perna em alguém neste
mundo ingrato. A pior delas é a rapinagem sobre a autoria. E foi o
que aconteceu no episódio das Segundas Poéticas do quiosque Drink
Café. A dona do quiosque tinha um litígio com a Prefeitura, pediu
ajuda a mim, eu pedi ajuda ao Bruno Cattoni, e uma reportagem do RJTV
logo solucionou o problema dela, que pôde voltar a realizar seus
espetáculos ao ar livre.

Com o espaço e o caminho abertos depois da interferência
do Bruno, uma idéia minha foi levada a efeito, com a participação dos
eventos que compõem o panorama poético do momento, o Festival Segundas Poéticas.

Um texto de apresentação, de luxo, diga-se de passagem, redigido pelo Bruno,
ajudou a emplacar a idéia. Pois bem, quatro semanas de espetáculos e
casa cheia depois, além de exposição gratuita na mídia (RJTV, Jornal O Globo, Jornal do Brasil,
Coluna da Márcia Peltier) a dona do quiosque dispensou os meus serviços e fez
contato com os eventos para dar prosseguimento à minha idéia. E os
responsáveis pelos eventos não só aceitaram continuar participando,
como se eximiram de, por delicadeza, devolver o convite e a lembrança.
Fui dispensada também por eles.

Não pode haver poesia onde não há, no
mínimo, delicadeza e verdade. Então o que vai acontecer no Drink Café
nas próximas segundas-feiras? Rapinagem. Rapinagem explícita e
deletéria. Uma aula ególatra de indelicadeza e desrespeito à autoria,
onde gente que se diz poeta assume o lugar do professor. Que pobreza!

31.8.05

Casulo

Mudo de pele a cada manhã
abandono a alma pelo caminho toda a tarde
e renasço ao fim do dia

Os ânimos dançam um ciranda louca
tribal e selvagem
E eu apenas sinto
como um reflexo tardio
os seus cabelos nas minhas mãos

E me deixo levar pelo vento
como folha seca em prenúncio de tempestade
Retomo a alma no caminho de casa
Sempre acho que ainda não é tarde.

11.8.05

Festival Segundas Poéticas

A Lagoa Rodrigo de Freitas é um coração a ceu aberto. Em volta dele, os quiosques são conchas que abrigam gente que busca o prazer de Viver.

Música, paisagem, degustação e liberdade fazem a composição de um enredo carioca.

Mas Alguma coisa pararece estar faltando: a Poesia. A melhor maneira de sentir e traduzir a vida e os bons momentos.

A partir do dia 15, esse enredo estará completo.


Festival Segundas Poéticas
O Festival "Segundas Poéticas", na Lagoa Rodrigo de Freitas, busca valorizar os eventos de poesia que já acontecem diariamente na cidade.

O quiosque Drink Café abrigará o Festival nos meses de Agosto e Setembro, sempre às segundas-feiras.

Serão doze grupos que já se apresentam pela cidade, compondo uma vitrine do movimento poético que já se tornou uma referência cultural do Rio: Academia dos Poetas da Amendoeira, Arranjos Para Assobio, Ateliê Performático, Dizer Poesia, Movimento Letras Poéticas, Palavra de Honra, Panela Poética, Poema Show, Poesia Digital, Terça ConVerso No Café, Ver o Verso e Versos da Meia Noite.

Cada um desses grupos vai trazer um projeto e uma ação poética em processo, com pesquisa de fusão de linguagens da poesia com outras áreas de expressão artística e criativa.


Quando : 15, 22 e 29 de agosto; 05 de setembro
Onde : Drink Café - Parque dos Patins - Lagoa - quiosque nº 5
Horário : 20:00
Como : Dois a três eventos homenageados por edição + roda aberta de Poetas


Entrada Franca


Idealização e Organização: Priscila Andrade - Pit - Dedo de Moça
Organização: Thiago Espósito


Programação:

15/08: Dizer Poesia, Versos da Meia Noite
22/08: Panela Poética, Poesia Digital
29/08: Movimento Letras Poéticas, Arranjos Para Assobio
05/09: Academia dos Poetas da Amendoeira, Ver o Verso, Terça ConVerso, Palavra de Honra, Poema Show

Mais informações com Priscila Andrade
segundaspoeticas@gmail.com
priscilagandrade@gmail.com

1.8.05

Bruno Cattoni - O Destino do Chão

Olhando a chuva interminável

Concluo que o segredo extremo da vida

É esperar com firmeza o sol

Achando música nas gotas

E imaginando todos os pobres aconchegados.



Lembro da Marcha para o Mar, de Gandhi

E traço um movimento similar

Em direção à fonte do amor. Todo o povo

Indo em busca da doçura, em vez do sal.



A chuva desaba indiferente ao que atinge

Nas estradas do peito rolam carros-de-boi

As curvas e as retas vão chegando às retinas...

Como se minha alma fosse o destino do chão.


In: CATTONI, Bruno. Osso (na cabeceira das avalanches). Rio de Janeiro: 7Letras, 2005.

4.7.05

Estou voltando. Aos poucos. Segue
abaixo o primeiro do movimento lento de retorno. Em seguida, minhas leituras
atuais.

Ana Cristina César

FAGULHAS


Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir, chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça,
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.

Eu queria até mesmo
sabe ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las.

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.

Poema extraído do livro "INÉDITOS
E DISPERSOS", editora Brasiliense

27.6.05

Armando Freitas Filho - Entre nós até o segredo

Entre nós até o segredo
mais cheio de dedos
é escrito
e escarrado
no olho da rua, nos muros — para todos —
sem temer que venha a furo
a dor do tumor
e o que era antes
de um inaudível vermelho
agora ruge
feito uma ferida
fora das grades.


In: FREITAS FILHO, Armando. 3x4, 1981/1983. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. (Poesia brasileira). Poema integrante da série
Durante.

26.6.05

Hilda Hilst - PORQUE HÁ DESEJO EM MIM, É TUDO CINTILÂNCIA

E por que haverias de querer minha alma

Na tua cama?

Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas

Obscenas, porque era assim que gostávamos.

Mas não menti gozo prazer lascívia

Nem omiti que a alma está além, buscando

Aquele Outro. E te repito: por que haverias

De querer minha alma na tua cama?

Jubila-te da memória de coitos e de acertos.

Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

(Do Desejo - 1992)



* * *



Colada à tua boca a minha desordem.

O meu vasto querer.

O incompossível se fazendo ordem.

Colada à tua boca, mas descomedida

Árdua

Construtor de ilusões examino-te sôfrega

Como se fosses morrer colado à minha boca.

Como se fosse nascer

E tu fosses o dia magnânimo

Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

( Do Desejo - 1992)



* * *



Que canto há de cantar o que perdura?

A sombra, o sonho, o labirinto, o caos

A vertigem de ser, a asa, o grito.

Que mitos, meu amor, entre os lençóis:

O que tu pensas gozo é tão finito

E o que pensas amor é muito mais.

Como cobrir-te de pássaros e plumas

E ao mesmo tempo te dizer adeus

Porque imperfeito és carne e perecível



E o que eu desejo é luz e imaterial.



Que canto há de cantar o indefinível?

O toque sem tocar, o olhar sem ver

A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.

Como te amar, sem nunca merecer?

Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.

25.6.05

Clarice Lispector - Atenção ao Sábado

Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.

No sábado é que as formigas subiam pela pedra.

Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.

De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana.

Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?

No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.

Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.

Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.

Domingo de manhã também é a rosa da semana.

Não é propriamente rosa que eu quero dizer.


Texto extraído do livro "Para não Esquecer", Editora Siciliano - São Paulo,
1992.

20.6.05

Cacaso - Terceiro Amor

O primeiro amor já passou
o segundo amor já passou
como passam os afluentes
como passam as correntes
que desencontram do mar
Como qualquer atitude
também passa a juventude
que nem findou de chegar

O primeiro amor já passou
o segundo amor já passou
como passam os espelhos
como passam os conselhos
ilusões de pedra e cal
Como passam os perigos
e tantos muitos amigos
sem deixar nenhum sinal

O primeiro amor já passou
o segundo amor já passou
como passam as gaivotas
as vitórias as derrotas
fantasias carnavais
as inocências perdidas
como passam avenidas
corredores temporais
A correnteza dos rios
como passam os navios
que a gente acena do cais

In: CACASO. Mar de mineiro: poemas e canções.
Poema integrante da série Papos de Anjo da Guarda.

4.6.05

Game Over

"é, minha linda,
parece que agora é
game over
o jogo acabou
c'est fini

adversários sob o mesmo teto
nos degladiamos tanto
sem saber
que nesse jogo
o amor não tem extra life

agora
o segundo round
é entre nossos advogados"




Pedro Tostes

15.5.05

Fechado para Obras

Por versos menos cambetas
Por leitores que deixem comentários
Por editoras mais ousadas

Mas relaxe. É por pouco tempo.

Enquanto isso, deixaremos links, muitos links.

Leia Leminski, Camus e Borges.
Assista Fellini, Bergman e Glauber.

Descubra quem é Rodchenko,
critique a semana de 22
e defenada Andrade- mas não diga qual.

Voltarei em breve, com programação nada normal.

Priscila Andrade


Comente no Livro de Visitas ou mande e-mail

20.4.05

Muito Prazer

O menino Henrique me pergunta quem eu sou. Eu sou uma convulsão menino,uma trovoada, um raio na tempestade. Sou o mar de ressaca.As folhas secas levadas pelo vento. O cisco que entra no olho.

Sou a gata mercenária que finge dormir no colo de qualquer um que lhe faça um afago suave nas costas, ronronando sem pudor.

Tenho medo de elevador. Tenho medo de muita gente junta. Tenho medo de gente.

Mato barata com detergente, só pra não ter que ouvir o barulhinho nojento que ela faz quando é esmigalhada.E não posso ver bicho morto.

Sou desconfiada, arredia, espinhosa. Mas sou generosa e ainda me apaixono. Paixões ridiculamente tolas e intensas como todas as paixões adolescentes. Por que eu não cresci. Continuo uma menina tonta, encantada com as Marias-sem-vergonha e suas sementes que explodem ao mais leve toque. Assim como eu. Explosões de fúria ou de paixão. Frouxos inexplicáveis de riso.Rompantes de apatia.

Tenho olhos transparentes. Não precisa perguntar. Eu não preciso dizer. Meu olhos falam tudo. Me delatam, os traidores.

Sou transparente: Olhos que falam e uma língua maior que a boca. Quer saber como eu sou, menino Henrique? É só me olhar.

18.4.05

Outono

Acarinho as cabeças de minha cria natimorta
e ouço seus chorinhos miúdos.
Sinto o leite talhado escorrendo
de meus seios inchados e doloridos.

O rio logo se forma,
com seu chão lodoso
e pequenos redemoinhos que tentam me sugar.

Meus pequenos natimortos sugam meu leite talhado.

Pelo rio, boiando, passam
folhas secas,
frutos maduros que o vento derrubou
e algumas flores.

O sol se põe.
Nino a cria.
Adormeço também.

8.4.05

Silêncio

Sabe quando as mãos são quentes e envolvem a sua cintura? Quando os cílios são negros e longos e os olhos castanhos e claros?
E o cabelo é de menino, emoldurando um rosto forte e doce?
Pois é. Eu sei.

Sabe quando você não precisa estar do lado para sentir e só a lembrança já te abre o sorriso?
Pois é, eu sei.

Sabe quando a cama é o mundo e o silêncio diz tudo?
Sabe quando o silêncio é bom?
Eu sei disso também.

E sabe do que mais? Eu durmo muito, muito bem.

6.4.05

Fal

"Ele me promete colo e sussurros, vinho e conversa. Quando podemos, nos encontramos. Sorrimos e somos encantadores, extremamente cuidadosos. De vez em quando, indo para casa, ele me telefona da Marginal pelo celular... e ri das minhas piadas e ouve como foi meu dia e sorri quando digo que sinto saudades. Diz que me adora. Gostar dele é tão fácil que dá medo."

Gostaram? Vão lá.

25.3.05

Angelical

Sou mulher, o diabo de saias, criatura angelical.

Você vai se perder no meio das minhas pernas,
se achar.
E vou te dominar, com meus braços atados,
meu corpo sob o seu.

Escrava, submetida aos seus caprichos,
controlo seus atos e movimentos,
com meu falso olhar submisso.

Anjos caídos, voltamos juntos,
ainda que por um instante,
clandestinamente,
às bênçãos celestiais.

11.3.05

6.3.05

Escória

Secreção, pus, pruridos, necrose.
A necrose traz o puz. Os pruridos o mal cheiro.
O mal cheiro se espalha. Somos eu e você, em decomposição, reafirmando a decrepitude inevitável e certa da espécie humana, realimentando a exuberante opulência da natureza.

Somos um lixo de merda, que se transmuta, aduba a terra, gerando clorofila e oxigênio, para que os outros lixos viventes, para que o resto da escória orgânica, possa seguir sua vida gerando o caos, alimentando a discórdia, celebrando a desarmonia.

Evoé povo das trevas, criaturas do mal. Somos a escória, a praga e a peste. Estamos aqui, parasitas do mundo, apenas para infectar e destruir, aniquilar com qualquer possibilidade de bons fluidos. Somos podres, a essência do mal. E nisso, meus caros, somos imbatíveis.

1.3.05

Digestão

Elaboração dos alimentos nas vias digestivas para depois ser deles assimilada a parte útil e expelidos os resíduos.

Útil: que ou quem tem ou pode ter algum uso. Proveitoso.

Expelido, expelir: lançar fora com violência, expulsar, ejetar. Expectorar. Lançar de si. Proferir com ímpeto.

Resíduos: resto. Fezes, borra, sedimento.

Neste momento estou digerindo você.

ELP I, de H.R. Giger

9.2.05

Dormindo com o inimigo

Será que pega mal se eu sair dizendo que ele ronca, tem as costas peludas, parece prenhe de 9 meses, tem pau pequeno e saco grande? Será que vai parecer dispeito? Será que eu vou parecer uma mocinha vulgar?

Honestamente? Ca-guei.