Pesquisar este blog

26.9.08

Ela amanhece todos os dias,
olhos nublados. Calça os chinelos,
escova os dentes, cai no batente.

O batente da porta que não abre, está torta, curvada, emperrou.
Emperrou todo o trânsito a carreta que virou na curva da rua da escola,
que fica do lado da creche, que fica em frente ao mercado,
que não fica perto do açougue. Que custa os olhos da cara.

Cara feia medo não me dá,
deu-tá-dado, se lambuza
quem nunca comeu melado.

Pára! Pára o ditado,
o lugar comum, o clichê.
Mas ela não quer ser o singular,
o original, o exclusivo.

Ela só quer se adequar.
Ser classe média como todo mundo.

E casar. E comprar uma casa.
E ter dois filhos e um cachorrinho,
um papagaio e um periquito.

E passar no concurso público.
E virar mega loura-Hebe
pra carregar os netos no colo.

Mas por enquanto ela só amanhece, nublada.
Ressaca. Ressaca e Engov não combinam
com louro-Hebe, netos e Anais Anais.

Então ela calça o tamanco,
amarra o top, vai pro boteco.
O Hoje é Rabo de galo,
ovo amarelo e algum desencanto.