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19.9.19

O gato e a República

Enquanto a República cai lentamente lá fora, Nego, o gato branco, geme e suspira em sono profundo com a cabeça apoiada no meu braço enquanto digito. Devo contar para ele que Frota parabenizou Felipe Neto? Seria saudável tirá-lo de seu sono fofucho para contar que Frota tem feito postagens, hum, como direi? Sensatas? (Leio as postagens, olho pro chão e sussurro - Satanás, é você?)

Desconfio que se fizer isso ele me surpreenderá não miando, mas falando: "Pegadinha do Mallandro! Yeh, yeh!". Mas percebo rapidamente que isso é apenas um lapso de otimismo patológico da minha parte. Dura menos que um suspiro do gato.

O gato acordou. Não falou nem miou. Está tomando seu banho de língua, alheio à Amazônia que queima, como já queimou Roma.

Agora sentou do meu lado exigindo cafuné. Darei. Será meu ato de resistência! Farei cafuné com a intensidade e emoção daqueles que cantam ainda hoje a Internacional! Sejamos anacrônicos, anacrônicos, anacrônicos! Não passarão, só passarinho - ops, o gato caçou!

28.5.19

Despojos

Olho o olho que olha o osso,
despojos do corpo que os corvos
destroçam. Miolos, ossos, pescoço.
Nada sobra.

22.3.19

Queria, mas não.

Eu queria dizer que te amo,
mas é mentira.
Eu queria dizer que sinto sua falta,
mas seria mentira.

Seria mentira
olhar no fundo
escuro
dos seus olhos
negros
e não pensar
- que noite lenta.

Eu queria dizer que eu te escuto
(só por educação)
sem ser um dever
uma obrigação

Eu queria
se tornando vera
a mentira

Sem comiseração
sem consideração
por você ou pelo tempo
que cobra e passa