Para assistir depois: Crya Cuervos, de Carlos Saura, com Geraldine Chaplin. Aqui um trecho.
Qual a semelhança entre o texto e o filme? A crença fictícia de Ana de que a morte dos pais é culpa dela. Não é. Assim como esse filho torto não é culpa da mãe. Só será se ela concordar em criar e sustentar um universo paralelo
Para reflexão uma breve história.
Mas poderiam ser duas, três ou mais. Poderiam ser mais leves ou mais pesadas. Envolver ou não agressões físicas ou verbais. Onde se lê filho pode-se ler filha. Todos negam (Que horror! O que os vizinhos vão pensar?), mas toda família tem um núcleo assim. Às vezes apenas não sabem.
Uma mãe sofre agressões verbais do filho. Essas agressões, acompanhadas de furtos de pequenos objetos, dinheiro e joias progridem para agressões físicas. A mãe faz o registro de ocorrência mas desiste, coitado do filhinho... Não vai à delegacia quando é chamada e quando vai retira a queixa. O filhinho agressor continua em casa, alimentando agressões morais e físicas (cada vez mais intensas), depredando o patrimônio, o caixa e a autoestima da mãe. Em pouco tempo parará de trabalhar e passará a ser sustentado por ela, mesmo que já tenha passado dos 30. Geralmente esse filho também tenta isolar a mãe do relacionamento com o outro filho ou filha, com o resto da família e com os amigos.
A mãe, por sua vez, nas poucas conversas que tem fora desse ambiente, atribui ao outro filho ou filha (a essa altura já expulso de sua casa, de sua família e de sua história) a falta de caráter e a violência daquele que ela acolhe: se uma mãe está falando mal do filho, ele deve ser três vezes pior do que isso, pensam os ouvintes. Está arruinada aí a primeira vida: a do outro filho. Que vira a ovelha negra sem voz. Ninguém ouve um filho que foi desacreditado pela mãe. A conta emocional, familiar, social e profissional que esse filho pagará é alta. E será cobrada em cada centavo.
A mãe será desconstruída e destruída a cada dia, com agressões verbais ou físicas, com o desmonte do seu lar. Essa é a segunda vida perdida.
O filho protegido perderá o contato com a realidade, perderá a empregabilidade ou a capacidade de empreender. Passará a ter uma visão da vida social, familiar e profissional totalmente distorcida, alimentada pela mãe. O que será desse filho quando essa mãe não estiver mais presente? Essa é a terceira vida destruída.
Se você é o outro irmão
Queridos e queridas: se você é outro irmão ou irmã, entenda que ninguém adoece sozinho e que aquilo não é só mau caratismo. A família toda está doente. Afaste-se para preservar sua integridade física e mental. Você precisará das duas para salvar sua mãe ou mesmo seu irmão ou irmã – isso, claro, se eles quiserem ser salvos. Às vezes não querem. É como dizem as aeromoças: adultos saudáveis, em emergências, devem colocar suas máscaras de oxigênio primeiro, para ter condições físicas de colocar as máscaras em seguida nas crianças, nos idosos e nos doentes.
Se você é a mãe
Acredite: você não está protegendo o seu filho (seja porque ele é o mais novo ou o mais frágil ou o que for). Você está condenando essa pessoa a impossibilidade de reintegração à uma vida social saudável. Esse mundo que você está alimentando em que um adulto tem cama, comida e roupa lavada de graça, em que aqueles que "incomodam" não podem estar presentes mesmo sendo seus amigos ou sua família não é real. Humilhar e diminuir o outro filho não tornará esse melhor, nem mesmo por comparação. E quando você não estiver mais presente? Como essa pessoa adulta, já passada da meia idade, vai aprender sozinha a lidar com as dificuldades e realidades do mundo? Você não está protegendo seu filho, está condenando. Pior, está condenando o outro também. E, acredite: você precisará do outro, porque essa doença, psiquiátrica ou não, cresce em escala progressiva. Você precisará de ajuda.
O que fazer
Não sou psiquiatra e cada caso é um caso. Mas algumas coisas são básicas. Sua integridade física e mental primeiro. Se a única forma de mantê-las for se afastando, afaste-se. Isso vale para a mãe e para o outro irmão ou irmã. Em seguida procure a orientação de um psiquiatra e de um advogado. Abra a situação para a família, não é vergonha nenhuma. Não faça nada sozinho. Mas faça alguma coisa.
Relações abusivas não devem ser aceitas, prejudicam a todos e nunca acabam bem.
Realmente estes assuntos sempre ficaram na esfera da vida 'Privada'.
ResponderExcluirColocá-los em discussão é, talvez, a primeira demanda para a cura de todos os que estiverem com abertura emocional para a nova jornada.
Ratificando, relações abusivas envolvendo pai e/ou mãe DEVEM ser discutidas fora daquele já doente círculo familiar.