Fal Azevedo é uma escritora e tradutora paulista. Conheci a Fal em 2003 através de seu blog "Drops da Fal". Criado pela escritora, o Drops foi um dos mais importantes no cenário brasileiro.
Naquele momento pré-Facebook, os livros de visitas dos sites eram bastante utilizados. O da Fal virou rapidamente uma animadíssima comunidade. Ali vários blogueiros conheceram uns aos outros, laços de amizade foram criados - e mantidos - e várias vezes contatos virtuais se tornaram presenciais.
Porque a Fal é agregadora, acolhedora. Ela responde todo mundo e todo mundo se sente especial. É um dom. Onde ela bota as mãos a leveza se faz presente. Mesmo no romance em que fala sobre a vida depois da morte precoce do marido.
Seu texto é envolvente, fluido. É fácil se reconhecer nos personagens. E essa identificação atrai.
Não há em sua escrita espaço para pedantismos e textos herméticos. São crônicas perfeitas dos dias de hoje. Na primeira ou na terceira pessoa, a figura da mulher - das mulheres, somos muitas - se apresenta de forma honesta, direta e a partir da ótica de uma mulher. Não há ativismos, bandeiras não são levantadas. O retrato feito ali do nosso dia-a-dia, intencional ou não, faz esse papel, dá voz a mulher de hoje.
No prelo, dois títulos:
Como ensinar um idiota a dançar e
Faço chá de hortelã e espero que fique tudo bem. A
pré-venda já começou. A autora tem 5 livros já publicados:
Crônicas de quase amor,
O nome da cousa,
Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite,
Sonhei que a neve fervia e
Todo mundo adora saturno.
Nunca mais vi meu amigo, meu amigo nunca mais me viu
Uma vez eu me despedi do maior amigo que já tive na vida.
Era uma sala, não, era uma espécie de vestíbulo, todo verde.
Eu, no pé da escada, a madeira pintada de branco, minha calça de linho cor de abóbora; ele a alguns passos de mim. Foi um ou dois dias antes do avião; aquela cidade era o centro do mundo; aquela dor era o meu peito; ele estava noivo e usando uma camiseta cinzenta; eu, sem rumo e de sapatos azuis; ele vinha partindo meu coração há mais de uma década, partindo meu coração, partindo meu coração, partindo meu coração, estilhaçando meu coração.
Ele me disse alguma coisa, eu disse blablablá, ele virou as costas e saiu dando passos largos, e quando vi a nuca dele, meio cor de rosa, meio creme, o cabelo alourado, raspado, encontrando a pele fininha, soube que nunca mais ia vê-lo.
Naquela hora, naquele exato momento, eu disse a mim mesma, disse, disse, disse, disse, disse, disse, disse, eu disse: “Nunca mais vamos nos ver”.
Pelas décadas seguintes nos encontramos algumas vezes, um trampo aqui, um esbarrão em um café ali.
Mas nunca mais vi meu amigo, meu amigo nunca mais me viu.
E da longa, muito mesmo, lista de homens que não me quiseram, ele é o retrato pendurado na parede, tantos anos, tantos anos, tantos anos.