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21.11.18

Volto às onze

- Mãe, tô indo pro baixo e volto às onze.
Vinte e quatro horas depois:
- Mãe, tô em Mauá, volto na sexta, beijo e tchau.
Na segunda feira seguinte, às duas da tarde:
- Mãe, perdi o ônibus. Vou ficar aqui com o Planta, o Lesma e a Dani Crazy. A gente volta amanhã, beijo e tchau.
Desligar o telefone antes da mãe ter tempo de dizer um "ai" era a arte do negócio.

- Mãe, tô indo pro baixo e volto às onze.
Doze horas depois, em pleno Carnaval, vomitada até a alma porque peguei o ônibus bêbada:
- Mãe, tô aqui nessa merda de Ouro Preto, o Lesma mentiu pra mim! É samba vinte e quatro horas por dia, no volume máximo, cada casa uma música diferente e as caixas de som nas janelas, viradas pra rua! Eu odeio esse lugar, eu odeio samba enredo, eu odeio o Lesma! E só tem ônibus para voltar amanhã de manhã. Acho que eu vou chorar. Merda. Beijo.

- Mãe tô indo pro baixo e...
- E se for não entra mais em casa!

Achei justo.

A criatura, à época dos acontecimentos