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27.6.18

Poesia das Meninas - Maria Carolina de Jesus

Procuro numa livraria online de grande porte o Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Encontro na seção de literatura infantojuvenil.

Uma livraria põe Maria Carolina de Jesus como literatura infantojuvenil. Uma livraria que também vende celulares, consoles e games. Para essa livraria, me parece, é tudo produto, no sentido comercial da palavra. E produto que o vendedor não precisa conhecer, ou Quarto de Despejo não estaria em literatura infantojuvenil. Para ser absolutamente justa, Diário de Bitita estava em literatura brasileira, menos mau.

Atualmente institutos de porte como a Biblioteca Nacional, o Instituto Moreira Salles, o Museu Afro Brasil, o Arquivo Público Municipal de Sacramento e o Acervo de Escritores Mineiros (UFMG) têm a custodia da produção da escritora. Espero que a prosa, a poesia e as letras de música de Maria Carolina extravasem os limites da Academia e dos Institutos e se tornem parte de nossas estantes e nossas leituras.

Então apesar de hoje ser quarta, aqui dia de poesia, vou postar alguns trechos de Quarto de Despejo, a prosa mais poética que já vi.


“As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quanto estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.”

“Quando eu vou na cidade tenho a impressão que estou no paraizo. Acho sublime ver aquelas mulheres e crianças tão bem vestidas. Tão diferentes da favela. As casas com seus vasos de flores e cores variadas. Aquelas paisagens há de encantar os olhos dos visitantes de São Paulo, que ignoram que a cidade mais afamada da América do Sul está enferma. Com as suas úlceras.  As favelas.”


“Esquecendo eles que eu adoro a minha pele negra, e o meu cabelo rustico. Eu até acho o cabelo de negro mais iducado do que o cabelo de branco. Porque o cabelo de preto onde põe fica. É obediente. E o cabelo de branco, é só dar um movimento na cabeça ele já sai do lugar. É indisciplinado. Se é que existe reencarnações, eu quero voltar sempre preta."



Maria Carolina de Jesus e a capa da primeira edição de Quarto de Despejo



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