A língua bipartida sibila, silvos agudos que penetram os ouvidos, a pele, as entranhas, como um alfinete. Fino e profundo. E neste caso em brasa, para estancar qualquer possibilidade, ainda que remota, de sangramento. Apagar qualquer rastro ou vestígio é uma meta.
Ela se aproxima sorrateira, sempre sorrindo angelical, serpenteando e sibilando libidinosamente. Escorregadia, envolve a presa – ele – que excitado e aterrorizado goza a cada segundo, de terror e curiosa incógnita. O que vem a seguir? A mulher quente, úmida e submissa? Ou a serpente venenosa, ardilosa, com suas presas e seus sibilos mortais?
Ambas lhe são igualmente atraente e sedutoras. Gostaria de devorá-la em uma só dentada, ser devorado em menos de um segundo por cada uma dessas criaturas. Criaturas que se fundem em uma única. Fêmea de aspecto agradável, mas nada além disso. Nem feia, nem bonita. Apenas agradável. Sua visão é confortável, no entanto não atrai olhares. Mas quando cruza com eles... almas perdidas.
Hipnótica, psicotrópica. Ímã. Cada desventurado que tem a infelicidade de um cruzar de olhares com a serpente, perde naquele momento sua alma e o controle sobre sua vida. Escravidão demandada. Servidão implorada.
E seu séquito de seguidores cegos e inebriados, cresce a cada dia. Uma gigantesca multidão. Escondidos na rotina do dia-a-dia, dos escritórios, dos bares e das esquinas, dão o sangue para garantir a sobrevida de sua Senhora.
Por que se alimenta de suor, sangue, ansiedade, angústia, inveja, ciúmes e descontroles.
Vil, ignóbil, infame. Eficiente na construção da imagem de inacessibilidade. Que torna seus gestos, hábitos, crenças e ações torpes em objetos de desejo. O desejo em que cada um de seus servos quer mostrar que ele, e apenas ele, é Aquele que alcança e que sim, é capaz de fazê-la mudar. Eficiente, a víbora, em fazer crer em ilusões.
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