Paraty, não para mim
Para eles, não para nós
Paraty, com sua poesia construída
Me expulsa
Me agride
Esse lugar não me pertence
Devolvo os desaforos
Deixando em cada pedra
Ou fragmento de terra do centro histórico
Um pouco de mim
Fios de cabelo
Pedaços de unhas ruídas
Cutículas arrancadas a dentadas
Fazendo gotejar o sangue
E o sangue se mistura a terra
Estou vingada
Paraty e eu agora somos uma só
Deixo ali minha marca
Meu DNA
Meu sangue literal
Faço o mesmo na cidade dos locais
Na Paraty de verdade
Que não atrai festivas, jornalistas ou turistas
A Paraty pária, vergonha
Subúrbio abortado do Rio
Mas a cidade entende e entra no jogo
E começa a me devorar
Consome meu sono
Rouba-me o calor do corpo
Devora minhas energias
Deixa apenas
Propositalmente
Uma certa melancolia
Angústia
Tristeza
Apatia
A cidade me expulsa
Guardo de lá apenas
Beijos roubados
Olhares furtados
Batimentos acelerados
E uma certa falta de ar
Pequenas transgressões
Públicas, íntimas e secretas
Apenas nós, transgressores
E a cidade sórdida, cretina
Apenas nós sabemos
Mas a cidade não pode falar
Para tí:
ResponderExcluirNunca deixes que a cidade fale por tí, nem por teu coração (afinal, são a mesma coisa).São lindas e tocantes suas poesias, mas unhas ruídas misturadas com sangue e areia só constroem poesias, não constroem pessoas como você, tão excepcional que é.