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20.4.05

Muito Prazer

O menino Henrique me pergunta quem eu sou. Eu sou uma convulsão menino,uma trovoada, um raio na tempestade. Sou o mar de ressaca.As folhas secas levadas pelo vento. O cisco que entra no olho.

Sou a gata mercenária que finge dormir no colo de qualquer um que lhe faça um afago suave nas costas, ronronando sem pudor.

Tenho medo de elevador. Tenho medo de muita gente junta. Tenho medo de gente.

Mato barata com detergente, só pra não ter que ouvir o barulhinho nojento que ela faz quando é esmigalhada.E não posso ver bicho morto.

Sou desconfiada, arredia, espinhosa. Mas sou generosa e ainda me apaixono. Paixões ridiculamente tolas e intensas como todas as paixões adolescentes. Por que eu não cresci. Continuo uma menina tonta, encantada com as Marias-sem-vergonha e suas sementes que explodem ao mais leve toque. Assim como eu. Explosões de fúria ou de paixão. Frouxos inexplicáveis de riso.Rompantes de apatia.

Tenho olhos transparentes. Não precisa perguntar. Eu não preciso dizer. Meu olhos falam tudo. Me delatam, os traidores.

Sou transparente: Olhos que falam e uma língua maior que a boca. Quer saber como eu sou, menino Henrique? É só me olhar.

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