As mãos cruzadas já estão frias. Os olhos fechados, tensos, transmitem dor. Enrugados, como que por um esforço para manterem-se fechados ou, ainda, para afugentar uma dor que já não existe.
E eu ali, viva, morrendo um pouco mais por dentro, sob o olhar indiferente das rosas amarelas que emolduram a despedida - "mesmo as flores tem azar ou sorte, umas enfeitam a vida, outras adornam a morte". A lembrança do versinho popular me irrita.
Tento pensar nas brincadeiras, nas piadas ácidas e certeiras. Tento me concentrar nas lições certas passadas de modo torto. Mas os olhos mortos contraídos me fazem lembrar do fim de vida melancólico, da sensação de abandono inúmeras vezes relatada, da certeza do fim: "Desse ano não passo não... meus irmãos morreram todos com a minha idade. É o prazo de validade da família, sabe?"
A certeza de que não, não teria como tornar o fim menos sofrido, faz com que eu me sinta inútil, boba e desnecessária. Não tenho importância, não faço diferença.
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